Estudar as cidades, uma complexa invenção da humanidade, compreender seu funcionamento e sua operação para planejar seu desenvolvimento não têm sido tarefas fáceis. As inúmeras e intrincadas interações entre os diversos aspectos que compõem e estruturam os núcleos urbanos são objeto de pesquisas e estudos. Contudo, parece que negligenciamos uma parte importante nesse processo, a que está relacionada aos impactos emocionais do funcionamento urbano sobre os habitantes das cidades.
Charles Landry e Chris Murray, autores do livro “Psyichology and the city: The Hidden Dimension”, estudaram o potencial da psicologia como auxiliar do planejamento urbano em sua tarefa de reinventar as cidades, e afirmam que interagir com as cidades, por intermédio do trabalho, da moradia, dos transportes e de tantas outras atividades, é uma experiência emocional constante. Evidências mostram impactos significativos no desenvolvimento e no bem-estar das pessoas.
Especialistas afirmam que, geralmente, os números de saúde mental nas cidades são piores que nas áreas rurais, e se agravam quanto maior for a cidade. Isso não significa que cidades sejam ambientes ruins. Contrariamente, elas são a solução, e não o problema. Entretanto, existem questões que devem ser enfrentadas e indicativos claros que a psicologia pode ajudar.
Há programas para o desenvolvimento de cidades inteligentes, cidades verdes, interações entre espaço urbano e inteligência artificial, programas para diminuir a emissão de carbono, implantação de novas tecnologias e tantas outras questões. Mas, onde estão os sentimentos das pessoas nisso tudo? Segundo disse, ironicamente, o urbanista Jan Gehl, nós sabemos mais sobre o habitat dos gorilas das montanhas do que sobre o habitat dos seres humanos.
Charles Landry afirma que as teorias da psicologia relacionadas à identidade de lugar e à fixação de lugar demonstram como o local onde se vive pode ter profundos impactos emocionais e físicos, influenciando, também, o senso de identidade, pertencimento, propósito e significado na vida –ou a falta dele. Isso, agregado ao fato que, ao longo da evolução humana, pouquíssimas pessoas viveram em cidades, nos leva a começar a entender a necessidade da psicologia urbana.
A psicóloga americana Patricia Greenfield usou um software para analisar dois milhões de livros publicados nos EUA, em mais de cem anos, para mostrar como a linguagem usual mudou de comunal para individual, e qual a correlação dessa mudança com a intensificação da vida urbana no país. O senso de individualismo cresceu e, embora isso traga benefícios, pode ser uma barreira para a vida urbana bem-sucedida. James Hillman, psicólogo e urbanista americano, sugeriu que o engajamento coletivo e o cuidado com o ambiente urbano –uma cidadania informada e consciente– é o que permitirá às pessoas encontrar significado na vida e no prosperar.
As informações disponíveis nos levam a crer que as cidades com maior sucesso serão aquelas que conseguirem incutir nas pessoas a resiliência psicológica capaz de torná-las adaptáveis e de lidar com as adversidades e complexidades mais importantes da vida urbana.
O entendimento de como a ambiência que nos cerca envia mensagens para a mente e influencia comportamentos, sem dúvida, modificará o desenho dos espaços urbanos. Cabe aos envolvidos com o desenvolvimento das urbes cientificarem-se da importância dos efeitos da operação das cidades na emoção humana e decodificá-los para iniciar o desenvolvimento das ferramentas necessárias à inclusão, de forma definitiva, da psicologia no planejamento urbano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário