No começo do ano restavam apenas 10% dos endereços IP de internet livres para registro. Isso é devido ao uso maciço no mundo e, especialmente, graças à explosão do uso de telefones celulares.
Espera-se solucionar esse problema com o novo protocolo de internet IPv6, desenhado para substituir a
versão 4 (IPv4), a mais usada atualmente.
O IPv6 está em uso especialmente na China, no Japão e na Índia. Vive-se atualmente uma fase de transição, que pode aumentar ainda mais a fosso digital entre países ricos e pobres.
Justamente, começa nesta segunda-feira (16/3) em Genebra a primeira reunião do grupo IPv6 da União Internacional de Telecomunicações (UIT).
Uma IP (Protocolo Internet) é um endereço numérico indispensável para ter acesso à internet. “É um código de entrada. A cada computador se atribui um único endereço IP”, explica à swissinfo Rosa Delgado, vice-presidente da Internet Society (ISOC) da Suíça.
“Em 1975 foi criada a internet e começou-se a registrar enormes quantidades de endereços para governos e empresas. A internet foi se popularizando cada vez mais. Nos anos 1990 já ficou patente que o protocolo IPv4 não era suficiente devido ao êxito tremendo da internet. Na mesma década também foram criados os domínios .com, .net e .org. A internet cresceu muito rápido”, acrescenta Rosa Delgado.
A partir do ano 2000, todo mundo pedia endereços IPv4, em especial com a grande expansão da rede na China, Índia, Brasil e países em vias de desenvolvimento. Até esse momento, os Estados Unidos continuavam sendo os maiores consumidores de endereços IP. No entanto, não se levava em conta a explosão da telefonia móvel. “Os países citados já deixaram de ser emergentes. A China já tem agora o maior número de usuários de internet”, precisa Delgado.
História do IPv6
A Internet Engineering Task Force (IETF) promoveu em 1995 o novo protocolo de internet IPv6. “Uma nova solução que os Estados Unidos e os países desenvolvidos não queriam e não necessitavam. Os Estados Unidos frearam a implantação do IPv6. Seu alto custo também era uma dificuldade adicional. China e Índia começaram a utilizá-lo e em 2000 foi adotado pelo Japão, que começa a migrar seus sistemas com apoio da China e da Índia. Na Ásia, começam a migração para o IPv6 por conta própria”, sublinha a especialista.
Um pouco depois, entre 2004 e 2006, os Estados Unidos e a Europa se abrem ao novo protocolo. Em 2008, o governo norte-americano decide migrar para o IPv6. Todas a administração e as empresas estatais já trabalham com essa nova versão de internet. “Inclusive as entidades públicas dos Estados Unidos têm que justificar o uso do antigo protocolo IPv4. Isso obrigou todas as empresas a passarem para o IPv6 para poderem se comunicar com o governo”, explica Delgado.
Na Europa, cada país toma suas decisões próprias. Por exemplo, a Espanha instalou o IPv6 em 2002 em uma rede de universidades. A União Europeia (UE) queria estimular o novo protocolo através de incentivos econômicos, mas não pode obrigar os Estados Unidos a generalizar a inovação. Para complicar, tudo está nas mãos das grandes operadoras de telecomunicações, que não querem investir na ausência de clientes potenciais.
Até 2004, a maior parte dos endereços em IPv6 estava na Ásia. Os Estados Unidos começam a recuperar o terreno perdido. Na América do Sul, Brasil, México e Argentina marcam pontos com o novo protocolo. Em 2005, foi criada na China a maior rede do país para conectar as universidades nacionais. Uma rede dessas dimensões não teria sido possível com o IPv4, dada a grande quantidade de endereços IP que requeria o projeto, relata Delgado.
Maior fosso digital
“Atualmente estamos em fase de transição mundial para o IPv6. Essa fase começou em 2000 e vai se prolongar por quinze anos, mesmo que ainda não seja palpável. É como a passagem da telefonia fixa para a telefonia móvel”. O IPv6 tem uma melhor infraestrutura, melhora o acesso para os celulares e as novas aplicações, além de ser mais seguro.
O IPv6 possibilita um volume de números muito maior do que o atual. Por outro lado, a versão IPv4 está muito mais limitada e permite um acesso menor aos novos serviços. “As novas aplicações já são desenvolvidas para o novo protocolo, para redes peer-to-peer (P2P), que funcionam ser servidores fixos. Por isso é preferível acabar com os antigos sistemas, pois seria muito caro adaptá-los à nova infraestrutura mundial.”
Essa migração “levará mais tempo nos países desenvolvidos e eles estarão desconectados de internet por algum tempo. Os novos sistemas pensados para o IPv4 exigem grandes investimentos em infraestrutura. Por que não fazê-lo com o novo protocolo?, questiona Rosa Delgado.
Os países em vias de desenvolvimento podem ficar fora dessa mudança, como já ocorre com a conexão internet. Como não dispõem de capacidades técnicas, o fosso digital será ainda maior. “É preciso pensar no que se pode fazer para reduzir esse fosso.”
Iván Turmo
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