O objetivo do congresso era a troca de experiências, através de um grande número de seminários e debates, com a presença de alguns dos mais renomados jornalistas de investigação.
Do financiamento das longas e dispendiosas enquetes ao relacionamento com a justiça, passando pelo setor financeiro, os esportes e o terrorismo, não faltaram exemplos de como os jornalistas de investigação trabalham. A troca de experiências é o principal objetivos dos congressos do GIJC.Com a crise econômica que a imprensa em geral atravessa “é um tipo de jornalismo ameaçado de extinção”, afirma Jean-Philippe Ceppi, jornalista da televisão suíça e presidente do comitê de organização do GIJC 2010. “Mas o jornalistas dos cinco continentes estiveram reunidos durante quatro dias em Genebra para o 6° Congresso Mundial de Jornalismo de Investigação (GIJC) de 22 a 25 de abril.
O objetivo do congresso era a troca de experiências, através de um grande número de seminários e debates, com a presença de alguns dos mais renomados jornalistas de investigação.
Do financiamento das longas e dispendiosas enquetes ao relacionamento com a justiça, passando pelo setor financeiro, os esportes e o terrorismo, não faltaram exemplos de como os jornalistas de investigação trabalham. A troca de experiências é o principal objetivos dos congressos do GIJC.
Com a crise econômica que a imprensa em geral atravessa “é um tipo de jornalismo ameaçado de extinção”, afirma Jean-Philippe Ceppi, jornalista da televisão suíça e presidente do comitê de organização do GIJC 2010. “Mas o jornalismo de investigação é uma barreira contra os poderosos”, acrescenta Ceppi.
“Os governos mentem e escondem segredos. Cabe a nós revelar a verdade porque ela é de interesse público”, afirmou o estadunidense Seymour Hersh, de 73 anos, em uma das plenárias da conferência de Genebra. “Nós, jornalistas, cometemos erros, mas não mentimos”, acrescentou. Hersh é conhecido desde 1969, quando revelou o massacre de civis por soldados norte-americanos na guerra do Vietnã.
“Naquela época pensava que podia ser objetivo, mas quando o próprio presidente Kennedy disse que a guerra era imoral, descobri que o que tinha que procurar era a verdade. Então saí da atualidade e passei para a investigação”, onde está até hoje, explicou Seymour Hersh. Mais recentemente, foi ele quem revelou como prisioneiros iraquianos eram torturados por soldados estadunidenses em Abu Graib. Sua reportagem foi divulgada no mundo todo.
“Se não contarmos o que ocorre realmente, nada muda”, afirma Hersh. Ele dá como exemplo a vida familiar, “baseada na confiança e no respeito”. Nos Estados Unidos descobrimos faz tempo que não podemos esperar isso do poder”, diz Hersh, que trabalha essencialmente para o semanário The New Yorker.
Um estranho negócio
David Barstow, do jornal The New York Times, vencedor do Prêmio Pulitzer em 2009, por uma série de reportagens demonstrando a manipulação da opinião pública nos Estados Unidos na luta contra o terrorismo através da grandes cadeias de televisão e rádio. “O grosso da mídia em nosso país fazia mais relações públicas do que jornalismo, para convencer os americanos da necessidade da guerra no Iraque”, explicou Barstow. “Isso ocorria através dos consultores, geralmente em entrevistas, mas dirigidos pelo Pentágono, o ministério norte-americano da Defesa.
O jornalista trabalhou quase um ano no assunto (custo de aproximadamente 1 milhão de dólares), com apoio dos editores, e descobriu que o grupo próximo do então secretário de Estado da Defesa, Donald Rumsfeld, estava diretamente envolvido com interesses da indústria militar ou de segurança. “Os consultores “independentes” da mídia visavam contratos de centenas de milhões de dólares no Iraque e no Afeganistão”, explica David Barstow. Depois de publicados seus artigos, houve tentativas, sem sucesso, de denegri-lo. “Humsfeld vai publicar um livro de memórias, talvez eu tenha a honra dele me dedicar um capítulo”, disse o bem-humorado Barstow.
Isolado há quatro anos
A presença mais marcante e simbólica no GIJC, em Genebra, como convidado de honra, foi a do italiano Roberto Saviano, autor de Gomorra, publicado em 2006 e que deu origem ao filme do mesmo nome. O livro, que vendeu até agora 5 milhões de exemplares, trata da Camorra, a máfia napolitana, região onde Saviano, 30 anos, trabalhava como jornalista. Quando o livro começou a vender, Roberto Saviano foi jurado de morte pela Camorra e vive isolado, vigiado noite e dia. Em Genebra, ele estava acompanhado por guarda-costas.
“O problema é que a máfia não gosta de luz, que a impede de se reproduzir, mas não é o silêncio que vai ajudar os italianos”, diz Saviano. Questionado sobre a declaração do primeiro ministro Silvio Berlusconi que, recentemente, durante uma entrevista, disse que seu livro prejudicava a imagem do país, Saviano respondeu que “em um país em que a máfia fatura 200 bilhões de euros não é um livro, mas o escândalo do lixo de Nápoles que prejudicava a imagem do país”. No entanto, ele relativizou dizendo que “Berlusconi traduz o pensamente de uma parte dos italianos, que acha realmente que falar da máfia prejudica o país”.
Saviano explicou também que, apesar de muitas propostas não se sentia apto para o exílio e que, apesar de tudo, “a Itália é uma democracia e houve progressos na luta contra a máfia, embora o erro do governo é dizer que ela está extinta”.
Roberto Saviano afirma que as atividades da máfia não estão limitadas ao sul da Itália, mas atingem também os países do norte como Suíça, Espanha, França, Alemanha. Aliás, ele está escrevendo um novo livro sobre a globalização e o crime organizado. “Disseram tantas vezes que eu ia morrer, que não tenho mais medo”, afirmou em coletiva à imprensa em Genebra.
Questionado por swissinfo.ch como se sentia em poder falar, respondeu que “estou muito contente pois esta é a primeira vez que posso falar a tantos colegas jornalistas de investigação.
Claudinê Gonçalves, Genebra
Swissinfo
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