Jamil Chade ENVIADO ESPECIAL / ZURIQUE - O Estado de S.Paulo
Os dirigentes do futebol campeão do mundo, a Espanha, são alvos de uma investigação sem precedentes na Fifa e que está abalando as estruturas da entidade. O Catar e a candidatura conjunta da Espanha-Portugal são os suspeitos de terem fechado um acordo ilegal para a transferência de votos para garantir-lhes as Copas de 2018 e 2022. Ontem, a entidade suspendeu temporariamente dois dos 24 membros do Comitê Executivo diante do mais grave escândalo de corrupção em décadas, além de quatro altos cartolas da Fifa que deram conselhos para se pagar propinas.
Mesmo assim, o presidente da entidade, Joseph Blatter, insistiu que a Fifa não tem nenhuma responsabilidade e os atos são individuais. Irritado e visivelmente atordoado por causa da maior crise de seus 35 anos na Fifa, Blatter se recusou a responder a perguntas. Declarou que a Fifa "não é uma entidade corrupta".
A entidade ainda insistiu que manterá o dia 2 de dezembro como data para a escolha das próximas sedes dos Mundiais. "Não há uma discussão de adiar voto ou mudar modelo de votos", afirmou o secretário-geral Jérome Valcke, garantindo que a eleição continuará secreta.
A ideia era manter em total sigilo o nome dos países envolvidos. Mas, achando que seu microfone estava desligado durante uma entrevista coletiva, Valcke pronunciou o nome do Catar a um colega ao seu lado. Ao perceber a escorregada, tentou desconversar. Mas seu desespero era evidente. "São apenas rumores e não temos provas ainda. Vamos ver se eles são verdadeiros", disse, admitindo, porém, que os países implicados poderiam ser suspensos. "Não podemos falar nada sobre o assunto", afirmou Claudio Sulser, presidente do Comitê de Ética.
A alegação recebida pela entidade seria um situação complicada para a Fifa. Afinal, nunca nenhuma candidatura foi suspensa e, pior, a atual tocaria diretamente a Espanha, atual campeã do mundo. A Fifa enviou uma carta aos países que concorrem a sede das Copas de 2018 e 2022 alertando que a troca de votos é proibida. Além das duas candidaturas investigadas, as outras são Inglaterra, Holanda-Bélgica, Rússia, Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul e Austrália.
O Estado apurou que as alegações secretas recebidas pela entidade são de que Espanha e Catar poderiam ter fechado um acordo no sentido de trocar apoio. Para 2018, quando a Copa ficaria na Europa, o Catar se comprometeria a levar para a Espanha os três votos asiáticos no Comitê Executivo. Em troca, a Espanha conseguiria para o Catar em 2022 os quatro votos da América do Sul - e seu próprio.
Por enquanto, a única decisão tomada é a suspensão por unanimidade de dois membros do Comitê filmados pelo jornal Sunday Times negociando a venda de seus votos por valores entre R$ 1,5 milhão e R$ 3,6 milhão. Os implicados são o vice-presidente da Fifa, Reynald Temarii, e o nigeriano Amos Adamu. Até o dia 15 a ideia é tomar uma medida final antes da votação que ocorrerá no dia 2 de dezembro.
"Não é um dia feliz. É um dia triste para o futebol. Mas num jogo não há como ter apenas comportamentos exemplares", disse Blatter. Colocando-se acima de qualquer suspeita, o cartola suíço prometeu defender o futebol. "É meu dever proteger o futebol e a Fifa dos diabos", afirmou. "Apelo para que todos atuem de forma honesta", disse. "Mas fico surpreso com a questão de dizerem que a Fifa é uma entidade corrupta."
Defesa. Valcke insistiu em separar a Fifa dos casos de corrupção. "Não estamos falando da instituição. Se um indivíduo é corrupto, não quer dizer que a entidade é corrupta. Se não, toda a sociedade é corrupta."
Os dirigentes suspensos são Slim Aloulou, Amadou Diakite, Ahongalu Fusimalohi e Ismael Bhamjee, todos com postos de alta responsabilidade na entidade - e do Comitê de Arbitragem. Nas entrevistas gravadas pelo Sunday Times, sugeriram que candidatos paguem propinas para garantir uma vitória. "Há muita tentação aqui e há muitos interesses em jogo", disse Sulser.
Estadao
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A FIFA é mais corrupta do que muitos governos e ditaduras espalhadas pelo mundo.
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