A santa é uma Nossa Senhora de Fátima sem rosto. Ela tem uma pipa no lugar das mãos. O rosário é um carretel de linha. A coroa é decorada com flores. Pipas e flores foram criadas para representar a alegria das crianças que viram a Virgem Maria. Uma senhora do grupo chegou a usar um pano branco para cobrir o novo painel.
“Paciência. Procurei fazer uma coisa com sinceridade dentro da minha fé como cidadão e também como artista. Então, não acho que tenha nada que esteja profanando a igreja ou indo além da fé deles”, defende Francisco Galeno, autor da obra.
“Aqui não tem mais concentração, não tem mais intimidade com Nossa Senhora”, afirma a dona de casa Terezinha Valença. “Como é que vai colocar uma pintura cheia de bandeirinha? Não é carnaval aqui dentro. Aqui não existe carnaval”, diz a dona de casa Maria de Sousa.
Além do abaixo-assinado, foram vários protestos. “Houve de tudo. Até palavrão censurando o pintor. As pessoas estão totalmente revoltadas. Houve choro, houve grito, houve tudo, atrapalhou a paz da igreja. Está um absurdo”, afirma a professora Zelma Capelli.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) considera que os painéis são uma obra de arte e comprou briga com os fiéis insatisfeitos. “É o princípio de ser uma intervenção moderna, dentro de um monumento de uma arquitetura moderna. É isso que dá sentido a Brasília. É isso que dá sentido à cultura brasileira neste local”, aponta o presidente do Iphan Luiz Fernando de Almeida.
História
A Igrejinha foi inaugurada em 1958, a pedido de Juscelino Kubitscheck para pagar uma promessa de Dona Sarah com Nossa Senhora de Fátima. O então presidente convidou Oscar Niemeyer, que desenhou o templo no formato de um chapéu de freira. Athos Bulcão fez os azulejos. A decoração interna ficou nas mãos do artista Alfredo Volpi.
“Volpi pintou e essa pintura foi destruída, vandalizada, em nome do azulzinho com branquinho”, aponta Alfredo Gastal, do Iphan-DF.
Ninguém sabe ao certo quem destruiu o desenho de Nossa Senhora com menino Jesus no colo, os dois sem rosto. O Iphan tentou recuperar a pintura original, mas não foi possível. Escolheu então Francisco Galeno, um artista com estilo parecido, para fazer os novos painéis.
A expectativa do Iphan é que a pintura dos painéis esteja concluída até o final do mês.
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