Um tema muito interessante e polêmico: A Halitose (mau hálito).
Dr. Wilson Correia Júnior
Em meu consultório, algumas vezes já ouvi aquela pergunta:
“Doutor, eu tenho mau hálito?”
Em boa parte dos casos, fica difícil para o Dentista identificar a halitose na 1ª consulta! Os clientes relatam que não sentem o odor, contudo alguém (amigo, colega, parceiro, etc.) o alertou sobre o problema, embora esse alerta não seja uma prática comum. Detalhes sobre a repercussão social mais adiante!
Como de costume, vamos seguir uma sequência para melhor entendimento ok?
1- O que é halitose?
A halitose (mau hálito) consiste na exalação de odores, a partir da cavidade bucal ou através da respiração!
2- Qual a causa da Halitose?
A halitose possui inúmeras causas, contudo, 90 a 95% das causas encontram-se na cavidade bucal. Outras causas da halitose têm origem de outras patologias, como diabetes, problemas hepáticos (fígado), problemas renais, dentre outras. Do percentual de causas de origem bucal, a maior parte se origina da saburra lingual, que nada mais é do que o acúmulo de alimentos no dorso (parte de cima) da língua.
As bactérias situadas na cavidade bucal promovem a fermentação dos restos alimentares localizados na língua. Nesta fermentação, ocorre a formação de gases que apresentam em sua composição o enxofre, elemento responsável pelo odor desagradável!
A halitose matinal, comum em todas as pessoas, é decorrente do consumo de gordura durante o sono e da diminuição do fluxo salivar. Vamos entender melhor.
A- Quando o cliente passa muito tempo sem ingerir alimentos, a quantidade de glicose diminui. Na necessidade de se ter energia, ocorre o catabolismo de gordura por parte do organismo, caindo na corrente sanguínea. Esta possui um cheiro desagradável. Quando o sangue circula pelos pulmões, acontecem as trocas gasosas (hematose), e, logo o ar decorrente do uso das gorduras é expirado. Por isso que, quando acordamos ou quando passamos muito tempo sem ingerir alimentos, estamos com um hálito um pouco desagradável. Contudo, após a alimentação e higiene oral, o odor desaparece. Caso permaneça, está na hora de procurar tratamento.
B- A saliva atua como uma proteção, impedindo e/ou neutralizando a formação de ácidos pelas bactérias. Isso ocorre pela presença de O2 na sua composição, o que inviabiliza a formação de ácidos pelas bactérias anaeróbias (desenvolvem-se em baixas concentrações deO2). Durante o sono, ocorre diminuição da salivação, o que favorece a formação de ácidos voláteis (que evaporam), provocando o mau hálito após o sono.
Algumas medicações, como antidepressivos, podem diminuir o fluxo salivar, facilitando a multiplicação bacteriana, logo ocorre um aumento da formação dos ácidos responsáveis pela halitose.
A xerostomia (diminuição ou ausência do fluxo salivar) é um fator também que deve ser levado em conta pelos fatores já explicados acima! Muitas são as causas da xerostomia: tabagismo, medicações, higiene bucal deficiente, respiração bucal, pouca ingestão de água, etc. Indivíduos portadores de sinusite, em alguns casos, podem apresentar formação de mau hálito em decorrência das secreções ricas em proteínas oriundas dos seios da face.
Deficiência de determinadas vitaminas também podem contribuir para a formação de odores. Esta situação ocorre devido à descamação abundante da mucosa, liberando células mortas, provocando o mau hálito.
Outra situação bastante comum é o cliente achar que a halitose é de origem estomacal. Apenas entre 0,5 e 1% dos casos, a halitose é de origem estomacal. Já se foi provado cientificamente que os odores são decorrentes dos pulmões, como já foi explicado acima! Um estudo em uma Universidade do Canadá mostrou isso na prática. Os pés dos indivíduos pertencentes ao estudo foram colocados em contato com uma pasta de alho por um período de tempo. Algumas horas depois, os indivíduos apresentavam halitose. A pela absorveu o alho, que caiu na corrente sanguínea e passou pelos pulmões, onde ocorreram as trocas gasosas, sendo expirada posteriormente.
Deve-se deixar claro que este ponto (diagnóstico da causa) é fundamental para o sucesso do tratamento. Uma anamnese bem conduzida, abordando a condição de saúde do cliente sobre possíveis problemas sistêmicos, stress, estilo de vida, dentre outros assuntos, pode ser determinante no prognóstico e tratamento da halitose.
3- Como saber se tenho Halitose?O diagnóstico da se dá não somente pelo Dentista, mas também por outras especialidades. Como a maioria dos clientes associa halitose à cavidade bucal, o profissional Dentista é, geralmente, o mais procurado e mais apto para atuar sobre este problema. Como já foi dito, o estudo detalhado das possíveis causas da halitose é de extrema relevância para o sucesso do tratamento.
Existem aparelhos (foto à direita) que mensuram a quantidade de compostos sulfurados voláteis (CSV) responsáveis pela halitose. São aparelhos eletrônicos que trabalham com escala de valores (de 1 a 4). Em outras palavras, determinados valores não são considerados suficientes para causar halitose. Esse meio de diagnóstico é muito importante para clientes que insistem em relatar mau hálito (halitofobia) ou em clientes que apresentam alteração no olfato (disosmia), que é caracterizada pela sensação de odores ruins. Logo, o cliente acredita que existe algum problema de ordem bucal, quando na verdade o problema é de outra ordem.
Outro meio importante para o diagnóstico é a partir do olfato (teste organoléptico). O dentista diagnostica o mau hálito pela sensibilidade do odor exalado a partir da cavidade bucal do cliente.
O grande problema é que o cliente não tem consciência de que apresenta o problema, uma vez que o olfato do cliente se “acostuma” com aquele odor, o que chamamos de fadiga olfatória. E, na maioria esmagadora, muitas pessoas não conseguem falar para aquele indivíduo que ele apresenta o problema. Contudo, caso haja desconfiança da parte do cliente, este deve perguntar a contatos próximos sobre o problema (se eles sentem o odor).
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4 – Como se trata a halitose?
A partir de um diagnóstico preciso, o Dentista pode indicar os clientes para as direções de tratamento, explicando aos mesmos as possíveis causas e o prognóstico do problema. Caso a origem do problema não esteja relacionada à cavidade bucal, o Dentista pode encaminhá-lo ao especialista mais adequado. Pode-se fazer mão de exames laboratoriais, para identificar possíveis carências de vitaminas (dosagem de vitamina). Caso haja, deve-se intervir neste problema concomitantemente.
A mensuração da quantidade de saliva produzida pelas respectivas glândulas também pode ser realizada (sialometria), pela influência do fluxo salivar explicada acima. Lembrando que muitos fatores podem alterar fluxo salivar.
Caso os problemas sejam de ordem bucal, o tratamento e remoção das possíveis causas da halitose (placa bacteriana e saburra lingual) estão indicados! A orientação de higiene se mostra como forte aliada ao combate da Halitose.
Os raspadores linguais (foto à esquerda) são poderosas armas contra a saburra lingual. Usa-se em movimentos de trás para frente. O problema relatado por muitos clientes é a ânsia de vômito decorrente deste processo. Deve-se tomar cuidado para minimizar estes problemas.
O uso de colutórios (enxaguatórios) bucais e chicletes fazem parte da rotina de muitas pessoas que desejam “prevenir” a halitose. Estudos mostram que estas duas medidas têm ação paliativa, isto é, ação sintomática, atuando nos sintomas e não na causa! Não há remoção da placa bacteriana ou saburra lingual utilizando estes métodos, uma vez que sua remoção se dá mecanicamente.
5- Como se previne a halitose?
Uma boa higiene bucal (escovação, fio dental e raspador lingual) associada a visitas regulares ao Dentista ( a cada 6 meses) é importante para o combate e prevenção da halitose. Caso o problema seja de origem não bucal, o acompanhamento com o especialista torna-se necessário e fundamental para o controle da patologia que possa estar causando a halitose.
O cliente também pode fazer uso de recursos que diminuem e/ou amenizam o problema como beber muita água (relacionado com formação de saliva), não passar muito tempo sem ingerir alimentos (para que o organismo não consuma os ácidos graxos, exalando o odor) e uma dieta balanceada (para evitar carência de vitaminas A e D).
6 – Halitose x repercussão social
Muitos dos problemas são causados pela Halitose vão além dos problemas de saúde. Exclusão social, separação, depressão, dentre outros. A pessoa que possui halitose e está ciente do problema apresenta dificuldade de convívio social, uma vez que sempre está presente aquele “medo” de alguém sentir o odor desagradável. O receio de passar para as pessoas esta imagem de “má higiene” faz com que inúmeros clientes virem reféns dos tratamentos paliativos, como foi explicado acima.
O indivíduo que “acha” que apresenta halitose muitas vezes, por vergonha, não procura saber, nem com os parentes mais íntimos, se eles percebem o odor. A vergonha também existe para procurar o Dentista. Muitas vezes a queixa de halitose não é nem mencionada pelo cliente, que justifica sua visita ao Dentista apenas como “consulta de rotina”. Sabendo desta inibição por parte do cliente, cabe ao Dentista durante o exame clínico, realizar perguntas sobre o problema, dando espaço ao cliente para se expressar e, em boa parte dos casos, mostrar que o mau hálito foi a principal causa da visita ao Dentista.
Como podemos ver, a halitose é um sintoma de que algo de errado está ocorrendo no nosso organismo, independente das causas. Um correto diagnóstico promoverá um tratamento adequado a cada caso. Cabe também ao cliente visitar o Dentista regularmente para avaliação da higiene e condição oral.
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