A reportagem é de Carlos Orsi e publicada pelo portal do jornal O Estado de S. Paulo, 07-01-2010.
"Infelizmente, não tenho um termômetro para medir as variações causadas por fenômenos naturais e outro, para a influência do homem", diz o pesquisador Alberto Setzer, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que é o coordenador do projeto de meteorologia em Ferraz, ao comentar o que o resfriamento recente poderia representar no debate sobre o aquecimento global. "Temos variações naturais que criam um ruído muito grande". Dados acumulados de 65 anos ainda indicam tendência de aquecimento, a despeito do resfriamento recente.
O cientista americano Marco Tedesco, do City College de Nova York, que estudou a relação entre fenômenos climáticos como o El Niño e o degelo na Antártida, lembra que ainda existem muito poucas informações sobre o continente, que começou a ser pesquisado há relativamente pouco tempo. Ele diz que, no Ártico, os sinais da mudança climática "são muito mais claros, e altamente significativos". "Na Antártida, as causas dos fenômenos climáticos são muito menos conhecidas".
Para 2010, Setzer espera um ano um pouco mais quente em Ferraz. "É difícil prever, mas se tivesse de chutar, diria que 2010 vai ficar na média das temperaturas, ou um pouco acima. É o que geralmente acontece, depois de um ano muito frio", diz ele. E 2009 foi excepcionalmente frio na EACF, com uma temperatura média de 2,6º C negativos. Neste século, apenas 2007 foi mais frio, com temperatura média de 3,1º C negativos.
Novembro teve a temperatura mais baixa para o mês em 11 anos, e dezembro, além de ter a terceira temperatura média mais baixa desde 2001, trouxe aos brasileiros que passaram lá o Natal e o ano-novo uma surpresa: neve, algo incomum para essa época do ano, de verão no hemisfério sul.
Segundo Heber Passos, o encarregado da estação meteorológica de Ferraz, e que ainda se encontra na Antártida, a neve foi o "destaque" do Natal. "Tivemos forte nevasca na noite de 25 e por todo o dia 26", disse ele, via e-mail. "A neve depositada na frente e no entorno da estação resistiu a 12 dias de temperaturas que superaram os 2º C positivos".
"Até boneco de neve do lado do mastro da bandeira fizemos", acrescenta o físico Luciano Marani, que está em Ferraz para cuidar do projeto de monitoramento da camada de ozônio, também do Inpe. Marani conta que também nevou no dia 31 inteiro. "Brinquei de escrever 'Feliz 2010' na rampa do heliponto", acrescenta.
Via: Unisinos
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