A água vai provocar conflitos locais, regionais e internacionais. E a Suíça? Por vezes, ela é atingida por fenômenos climáticos como a seca de 2003, mas é a abundância de água que preocupa.
"Há 200 anos, foram construídas represas e hoje temos problemas de biodiversidade e de segurança. Como é preciso retomar o curso normal dos rios por causa de enchentes, isso causa conflitos com os agricultores", explica Bernhard Wehrli, professor de química aquática na Escola Politécnica Federal de Zurique (EFPZ).
Aqui existe conhecimento, recursos e vontade política, mas para cumprir os Objetivos do Milênio fixados pela ONU para o desenvolvimento, a discussão esbarra nos objetivos frequentemente contraditórios da proteção ambiental, da agricultura e das necessidades do país em energia.
"Como muitos rios europeus nascem na Suíça, nosso país tem responsabilidades para com seus vizinhos e deve formular visões de futuro." Bernhard Wehrli lamenta a lentidão do sistema consultivo e federalista da Suíça e de suas 26 filosofias estaduais (cantonais).
Por sua vez, a representante do Ministério das Relações Exteriores, Natalie Erard, lembra que a água é um tema político importante e que "a Suíça defende a promoção da paz, notadamente através créditos pontuais." A Suíça se engaja para que o direito à água potável faça parte dos direitos humanos.
Água como direito humano
A Suíça, aliás, apoiou a proposta da Alemanha de criar um posto de especialista independente no Conselho dos Direitos Humanos da ONU.
Essa especialista é Catarina de Albuquerque. "Meu trabalho consiste em inscrever o acesso a água potável na agenda política da ONU com objetivo de incluí-lo como direito humano", explica a advogada portuguesa.
Esse mandato, todavia, foi duramente negociado entre diversos países, a ponto que Catarina de Albuquerque só foi autorizada a analisar os conflitos além fronteiras enquanto existem mais de 260 regiões fluviais e marítimas fronteiriças em todo o mundo.
"Meu mandato é limitado, reconhece Albuquerque. Mas os Estados já têm certas obrigações no direito à água e isso é um primeiro passo. Por outro lado, vou examinar as questões práticas. Nos países onde existem problemas, também existem soluções."
Ela cita Costa Rica, que tende a remediar o problema da poluição das águas por pesticidas, fomentando plantações de banana ecológicas. Ou a África do Sul, onde a Corte Suprema proibiu um sistema pré-pago de acesso à água.
O conflito do Oriente Médio
Fadia Daibes Murad, responsável do programa da ONG DanChurchAid no Oriente Médio (Jerusalém), lembra a que ponto a água é um problema nessa região.
"Desde a ocupação de 1967, Israel controla o rio Jordão e seu lençol freático, de maneira que os palestinos se encontram em um território fragmentado sem acesso à água e com parcos recursos", explica a especialista palestina.
Somando-se à falta de vontade política, essa questão contribui a alimentar uma crise sem fim. O acordo de Oslo II reconhece o direito dos palestinos à água, mas é impossível aplicá-lo porque a água é controlada por outro Estado.
"Israel propõe a dessalinização, o tratamento da água ou a importação, mas tudo isso é muito caro", explica Fadia Murad. Ela trabalha com uma hipótese "mais avançada: um compromisso palestino-israelense para elaborar uma visão comum e meios alternativos para, por exemplo, troca de especialistas e de meios por água potável.
A prioridade são os bancos, não os pobres
De maneira geral, as perspectivas são poucas e o problema é global, conclui Bruno Riesen. "Até 2025, atingiremos apenas metade dos Objetivos da ONU. A crise financeira faz com que a prioridade seja salvar os bancos, não os pobres. Ou então, como na Suíça, o debate é monopolizado pela penúria energética futura."
Por sua vez, Bernhard Wehrli é realista. "Nosso instituto tenta encontrar soluções concretas. Inventamos um sistema de purificação da água com garrafas de plástico. É uma inovação barata e que funciona. Mas é verdade que, para aplicar um tal projeto, são necessários milhões de dólares."
Nenhum comentário:
Postar um comentário