Houve uma longa entrevista
A reportagem é de Vera Schiavazzi e publicada pelo jornal La Repubblica, 27-02-2009. A tradução é de Benno Dischinger.
A entrevista com Küng, o principal teólogo católico do dissenso, entre os primeiros a contestar precisamente a infalibilidade papal, fora publicada na véspera pelo Le Monde e intitulada de modo análogo (“A igreja católica corre o risco de se tornar uma seita”), sem que, no entanto, nem as hierarquias católicas francesas, nem outras pessoas protestassem pela iniciativa do cotidiano de Paris. Ponto central do colóquio, a revogação da excomunhão, e a subseqüente correção de rota, para o bispo lefebvriano negacionista Richard Williamson: “Também se o Papa não tinha conhecimento dos discursos negacionistas e ele pessoalmente não seja anti-semita, todos sabem que aqueles quatro bispos o são – declarou Küng -. O problema fundamental é a oposição ao Concílio Vaticano II e a recusa de uma nova relação com o judaísmo: um Papa alemão deveria ter avaliado melhor a questão e mostrar-se privo de ambigüidade sobre o Holocausto, como prontamente o fez a chanceler Angela Merkel”.
Palavras mais que suficientes, uma vez que a entrevista foi republicada no cotidiano turinense, para impelir Poletto a manifestar “desconcerto e amargura” e a convidar os fiéis “neste tempo de Quaresma a rezar para que o Senhor dê ao Santo Padre o seu conforto e lhe faça sentir toda a nossa proximidade e total sintonia com o seu Magistério”. “Espero – acrescentou o Cardeal – um comportamento bem mais atento para com a Igreja católica. Turim ama o Papa e o aguarda com afeto”. Palavras análogas chegaram da Conferência episcopal piemontesa: “Um ataque infundado que alimenta a desinformação. Causa-nos estranheza que um jornal como La Stampa não saiba avaliar posições que gostariam de se apresentar como abertas e inovadoras e acabam sendo, ao invés, repetitivas, provincianas e descontadas”.
Foi pronta e nítida a réplica de Giulio Anselmi, diretor do cotidiano do Grupo Fiat: “Hans Küng é um grande teólogo e intelectual que teve com este Papa relações diversificadas e nem sempre negativas. Disse coisas interessantes e nós as publicamos, sendo de meu desagrado que o cardeal Poletto se irrite com isso. Mas, é correto que cada um exprima o seu ponto de vista: também o cardeal, figura de suma autoridade, que de resto dispõe de um jornal próprio, como qualquer outro. Temos leitores de vários tipos, e só podemos ter um comportamento laico”. Para o filósofo Gianni Vattimo, “estamos diante da censura, da decapitação de cada possível debate. O típico delírio de onipotência de quem está perdendo toda autoridade”. Enquanto o constitucionalista Gustavo Zagrebelsky observa: “Numa democracia, às críticas dever-se-ia responder com argumentos, e não se declarando ofendidos. O respeito ao Papa, como a todos, é um dever, mas é normal que a sociedade civil se interesse por aquilo que ocorre na igreja católica, precisamente como acontece o inverso. Dir-se-ia que é a igreja que ainda não está habituada com isso”.
IHU
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