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segunda-feira, 2 de março de 2009

A entrevista de Hans Küng é um erro', afirma cardeal

Houve uma longa entrevista com o teólogo suíço Hans Küng, crítica, como já o fora no passado para com Bento XVI, publicada pelo jornal La Stampa. E surge o imediato protesto do arcebispo de Turim, o cardeal Severino Poletto, e de todos os bispos piemonteses, “amargurados” pela escolha do jornal “precisamente enquanto a Igreja turinense está empenhada na preparação de uma nova Exposição do Sudário em 2010, e se prepara, naquela ocasião, para acolher com entusiasmo o Santo Padre”. A polêmica, não a única que nestes dias viu empenhado o arcebispo (precedentemente havia declarado que “orava” para que a presidente da Região, Mercedes Bresso, mudasse de idéia sobre o caso Englaro), explodiu ontem à tarde com duas notas difundidas pelas secretarias da Cúria. Não sem alvoroço por aquilo que um autorizado colaborador da Stampa, como Gianni Vattimo, já definiu como “a tentativa de censura de quem se sente atualmente em minoria”.

A reportagem é de Vera Schiavazzi e publicada pelo jornal La Repubblica, 27-02-2009. A tradução é de Benno Dischinger.

A entrevista com Küng, o principal teólogo católico do dissenso, entre os primeiros a contestar precisamente a infalibilidade papal, fora publicada na véspera pelo Le Monde e intitulada de modo análogo (“A igreja católica corre o risco de se tornar uma seita”), sem que, no entanto, nem as hierarquias católicas francesas, nem outras pessoas protestassem pela iniciativa do cotidiano de Paris. Ponto central do colóquio, a revogação da excomunhão, e a subseqüente correção de rota, para o bispo lefebvriano negacionista Richard Williamson: “Também se o Papa não tinha conhecimento dos discursos negacionistas e ele pessoalmente não seja anti-semita, todos sabem que aqueles quatro bispos o são – declarou Küng -. O problema fundamental é a oposição ao Concílio Vaticano II e a recusa de uma nova relação com o judaísmo: um Papa alemão deveria ter avaliado melhor a questão e mostrar-se privo de ambigüidade sobre o Holocausto, como prontamente o fez a chanceler Angela Merkel”.

Palavras mais que suficientes, uma vez que a entrevista foi republicada no cotidiano turinense, para impelir Poletto a manifestar “desconcerto e amargura” e a convidar os fiéis “neste tempo de Quaresma a rezar para que o Senhor dê ao Santo Padre o seu conforto e lhe faça sentir toda a nossa proximidade e total sintonia com o seu Magistério”. “Espero – acrescentou o Cardeal – um comportamento bem mais atento para com a Igreja católica. Turim ama o Papa e o aguarda com afeto”. Palavras análogas chegaram da Conferência episcopal piemontesa: “Um ataque infundado que alimenta a desinformação. Causa-nos estranheza que um jornal como La Stampa não saiba avaliar posições que gostariam de se apresentar como abertas e inovadoras e acabam sendo, ao invés, repetitivas, provincianas e descontadas”.

Foi pronta e nítida a réplica de Giulio Anselmi, diretor do cotidiano do Grupo Fiat: “Hans Küng é um grande teólogo e intelectual que teve com este Papa relações diversificadas e nem sempre negativas. Disse coisas interessantes e nós as publicamos, sendo de meu desagrado que o cardeal Poletto se irrite com isso. Mas, é correto que cada um exprima o seu ponto de vista: também o cardeal, figura de suma autoridade, que de resto dispõe de um jornal próprio, como qualquer outro. Temos leitores de vários tipos, e só podemos ter um comportamento laico”. Para o filósofo Gianni Vattimo, “estamos diante da censura, da decapitação de cada possível debate. O típico delírio de onipotência de quem está perdendo toda autoridade”. Enquanto o constitucionalista Gustavo Zagrebelsky observa: “Numa democracia, às críticas dever-se-ia responder com argumentos, e não se declarando ofendidos. O respeito ao Papa, como a todos, é um dever, mas é normal que a sociedade civil se interesse por aquilo que ocorre na igreja católica, precisamente como acontece o inverso. Dir-se-ia que é a igreja que ainda não está habituada com isso”.

IHU

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