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terça-feira, 26 de maio de 2009

A Reforma de Lutero e a reforma do consumo


25 de maio de 2009

A Reforma Protestante foi o resultado da passagem do livro manuscrito (Livro 1.0) para o livro impresso (Livro 2.0). Assim como vivemos hoje, havia uma luta básica pela liberdade.

Por Carlos Nepomuceno

Hoje, o que muda para valer no mundo 2.0 é a forma que consumimos. Estivemos ontem terminando de assistir juntos no curso da Facha o filme Lutero.

Dividimos a sessão em duas para termos bons debates.

Vimos algumas características da evolução das redes de conhecimento. E ainda constatei que a Reforma Protestante foi o resultado da passagem no ambiente de conhecimento da escrita do livro manuscrito (Livro 1.0) para o livro impresso (Livro 2.0).

O interessante a se observar nessa passagem, igual a que vivemos hoje, é que há uma luta básica pela liberdade. O novo ambiente de conhecimento na época de Lutero, basicamente, permitiu a ele e seus seguidores irem à Igreja com mais informações.

Note que no filme ele não quer uma nova Igreja, mas o direito de ler e interpretar as escrituras com liberdade.

Como não deixaram, quiseram, inclusive, colocá-lo na fogueira, surgiu a concorrência – uma nova Igreja, com uma leitura diferenciada da mensagem de Jesus.

O que vemos naquela época, durante o filme, é basicamente a luta pelo direito da liberdade religiosa, que não havia. A Igreja queria ter o monopólio da conversa com Deus, que só falava Latim. ;)

Lutero, pelo menos no filme, não luta por uma nova Igreja, a princípio, mas ele quer ter o direito de:

  • ler as escrituras no original;
  • ter a sua própria interpretação;
  • escrever sobre o que ele acha sem que seja chamado de herege;
  • e publicar em alemão as suas conclusões.

Ou seja, basicamente a mudança na cabeça dele começa a partir do acesso aos livros manuscritos, que poucos podiam ler.

Ele passa, assim, a “consumir” religião de uma outra maneira, em função do que leu e se informou. Assim, se libertou de todo o obscurantismo que a falta de informação impunha a ele e a todos os seus contemporâneos.

Nada mais didático para entendermos o mundo atual, a chegada da internet (Web 1.0) e a explosão da colaboração (Web 2.0).

Veja que já conquistamos vários novos direitos com a rede, que começam uma grande reforma na relação do fiel (consumidor) com a sua Igreja (fornecedor de produtos e serviços), vários deles grandes monopólios, a saber:

  • temos hoje informações sobre a empresa pela web, seus diferentes produtos, o atendimento disponível, dados do manual, etc;
  • podemos comparar preços entre eles (vide sites como Bomdefaro, Buscapé, etc…);
  • conseguimos ler o que outros consumidores acham daquele mesmo produto;
  • ler mais opiniões da mídia especializada sobre o mesmo produto, tanto em português, como em outros idiomas;
  • podemos nós mesmos, ao consumir, expressar nossa opinião;
  • baixamos, copiamos, distribuímos o que é digital;
  • conseguimos ainda vender e revender ao mercado (Mercado Livre e agora com a Estante Virtual);
  • e, por fim, podemos comprar fora da nossa cidade ou do país.

Esse conjunto de informações pré-consumo e ações no mercado como também fornecedores faz do consumidor 2.0 um outro tipo de cliente completamente diferente para sacar o cartão de crédito do bolso.

Em resumo:

Não consumimos mais com a informação da Idade Mídia (termo usado pelo Luli). Temos mais informação para consumir. Estamos aprendendo a consumir com a informação da Idade da Rede Colaborativa! Sabemos mais do que o próprio fornecedor (corretor, médico, professor), que não está muitas vezes pronto para esse mundo.

E quando temos mais informação, estamos abertos à revolta, pois há uma raiva latente acumulada da exploração que sofremos no ambiente de conhecimento anterior.

  • Temos raiva de termos sido obrigados a comprar um CD com 20 músicas, a um preço abusivo, quando queríamos uma só;
  • temos ódio de termos pago a cada nova versão do Windows ou do Office um preço absurdo por algo cheio de bugs;
  • não gostamos de pagar por algo quando existe similar mais barato e melhor;
  • e vemos, por exemplo, parlamentares e governantes menos 2.0 fazendo gato e sapato com o nosso suado dinheiro.

As revoltas latentes se transformam e se transformarão em atos de rebeldia presentes e futuros.

  • Inventamos o software livre;
  • trocamos músicas e filmes pela Web;
  • pesquisamos, pesquisamos, comentamos, comentamos, ajudamos aos outros a terem cada vez mais informação para não serem enganados;
  • fazemos blogs e comunidades independentes criticando marcas, empresas, produtos, serviços, etc.

Os políticos terão também o seu troco. É uma questão de tempo e de Luteros 2.0 que aparecerão. Pelo simples prazer de nos vingar, de ajudar, de melhorar, de mudar. O recente escândalo das passagens no Congresso é algo nessa direção. As informações foram disponibilizadas na rede e o pessoal começou a estudar o assunto. Abriu-se a caixa de Pandora.

O consumidor 2.0 quer Empresas, Congressos, Governos 2.0 num mundo 2.0. Ou seja, ele antes de comprar, vai se informar muito mais do que na Idade da Mídia. Estamos abrindo as caixas lacradas do ambiente anterior, como é típico na passagem de um ambiente de conhecimento para outro.

Nesses momentos, com a rede, ganhamos a troca (consumidor-consumidor) e o acesso à informação antes secreta, fechada a sete chaves. E muito, muito mais opções no mercado.

Assim, projetos 2.0 não são formas de enrolar o novo consumidor, mas devem ser voltados para uma mudança de atitude da empresa, que terá que se reformar, para lidar com esse novo homos_informadus_consumus_est.

Essa nova espécie é informada e informante como nunca fomos no passado. Se não cair essa ficha, é melhor nem passar perto do orelhão 2.0. Índio já não quer mais só apito, quer apitar também e bem alto!

Veja o filme, chegue às suas conclusões e comente.

Carlos Nepomuceno (nepomuceno@pontonet.com.br) é professor, pesquisador e co-autor do livro Conhecimento em Rede (Editora Campus), coordenador do ICO, Instituto de Inteligência Coletiva e diretor da Pontonet. Mais dele no blog CNepomuceno

Fonte

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