AINDA A EDUCAÇÃO SEXUAL, UMA ENQUETE E OS PROGRESSISTAS
Reinaldo Azevedo defende a posição do Pai contra KIT pornográfico.
Uma avalanche de comentários petralhas — pelo visto, eles adoram o Fantástico — invadiu o blog. Por quê? O programa entrevistou João Flávio Martinez, o pai que denunciou o uso do kit do Ministério da Saúde nas aulas de educação sexual. Contei a história aqui. O tal kit inclui pílula do dia seguinte, camisinhas masculina e feminina, diafragma, DIU e um pênis de borracha. Ao fim, uma pesquisa instantânea indagou se o pai estava certo ou errado em se insurgir contra o uso da estrovenga na escola: 60%, segundo o Fantástico, responderam que ele está errado. Reproduzo o comentário de um internauta que se identifica como “Caetano” — ele não sai daqui, embora me deteste, claro:
Oi, tudo bem?
Você viu a pesquisa do fantástico?
A maioria dos que votaram acha que usar pênis de borracha em aulas de orientação sexual não é "errado". E agora? Como você vai lidar com a opinião da maioria?
Publicar Recusar (Caetano) 22:07
Respondo
Atenção, Caetano, várias respostas diferentes e combinadas:
1 – ainda que a maioria dos brasileiros realmente fosse a favor, isso não mudaria a minha opinião. Eu jamais dei bola para maiorias. Eu só me preocupo com a minha opinião;
2 – A enquete do Fantástico deve ter ficado no ar cinco minutos — muita gente reclamou que não conseguiu votar porque só dava o sinal de ocupado. De todo modo, pouco importa: não é uma amostragem científica;
3 – O programa entrevistou o pai indignado (clique aqui). Em seguida, aparecem uma diretora regional de ensino de São José do Rio Preto, uma representante do Ministério da Saúde e um promotor da Infância e da Adolescência defendendo o uso do material.
- a tal diretora, Maria Silvia Nakaoski, afirma que, entre 2003 e 2004, houve uma redução de 59% na gravidez adolescente nas escolas atendidas pelo programa;
- a representante do governo federal, Mariângela Simão, afirmou a excelência técnica do kit;
- o tal promotor, um barbudinho chamado José Heitor dos Santos, disse não ver nenhum “poblema” (sic) no uso do material. Sim, ele aprova o pênis em sala de aula e espanca a inculta e bela.
4 – Vale dizer: o Fantástico entrevistou o pai e pôs no ar a voz de três supostas autoridades dizendo que ele está errado. Em seguida, pergunta para o telespectador: “O pai está certo ou está errado?”. Além de pesquisa instantânea não constituir amostragem científica, a abordagem do programa, lamento dizer, esteve longe de ser equilibrada. Será que não se encontrou um só “especialista” contrário ao kit? Ora...
5 – A partir de amanhã, começo a procurar dona Maria Silvia Nakaoski, aquela que aponta uma redução de 59% na gravidez entre 2003 e 2004. Tenho várias questões para ela:
- quem fez a pesquisa?;
- cadê o questionário?;
- por que números de 2003 para 2004? E de 2004 para cá? Ninguém pesquisou mais nada?
Estatística é uma ferramenta útil, mas pode servir para enganar trouxa. Uma escola que tenha tido, num ano, dois casos de gravidez e, no seguinte, apenas um pode dizer que reduziu o problema em 50%. Uma outra que tivesse partido de gravidez zero para um único caso teria multiplicado a ocorrência ao infinito — poderia alegar que a questão teria fugido do controle. Você quer que eu desenhe a matemática pra você, Caetano, ou já me entendeu? Isso se consegue com o kit pornô do Ministério da Saúde, com suco de laranja, incenso ou rebenque. Dona Nakoski certamente terá todo interesse em nos manter informados.
6 – Já Dona Mariângela Simão, óculos de "a" especialista na ponta do nariz, assegurou que o “instrumento (acho que ela se referia ao pênis) é usado em oficinas, teatros, em dramatizações e em aulas práticas Brasil afora”. Sim, ela falou “aulas práticas”. De quê? E pergunto: a freqüência do uso é uma justificativa técnica para o, digamos, método?
7 – Já o promotor José Heitor dos Santos, o homem que não vê “poblema”, sem nem mesmo analisar o caso concreto, desautorizou o pai, que entrou com uma representação no Ministério Público contra a Secretaria da Educação. E foi mais longe. Segundo a repórter, ele afirma que cabe aos responsáveis (no caso, os pais) opinar, mas não decidir sobre o conteúdo do ensino, que é uma atribuição do estado. Entendi: o estado pode passar por cima das questões de moral e ética das famílias, fazendo escolhas que nada têm de técnicas.
8 – A reportagem do Fantástico se transformou numa disputa entre o leigo indignado e “os técnicos” — mais ou menos como um médico e um indivíduo qualquer falando sobre doenças. Quem tem mais credibilidade? A diferença, no caso, é que, em matéria de educação sexual, todo especialista é um “abelhudo”.
9 – A questão é pedagógica e educacional. E aí, então, permanece a minha indagação: em matéria de educação sexual, a conceituação é impossível? Será mesmo necessário exibir os instrumentos ou a “aula prática”, como disse a representante do governo federal? E como materializar o número pi?
10 – Não tinha assistido ao Fantástico e esperei para ver a reapresentação na GloboNews. O programa mostrou o pênis, bem no cantinho da tela, por exatos três segundos, entre os demais objetos e remédios. Ora, por que não exibir claramente o que está sendo exposto, sem cerimônia, em sala de aula? Alunos estão sendo chamados a vestir a camisinha na estrovenga. Por que jornais e revistas não estampam a imagem em suas páginas. Vai ver existe uma certa noção de decoro com os telespectadores e com os leitores, não é? E todos estão certos nisso. Errado é submeter as crianças a esse material ao arrepio dos pais — ainda que o tal promotor não veja “poblema”... Noto que, enquanto as crianças são convidadas a manipular o pênis de borracha, a representante do Ministério da Saúde nem mesmo diz o nome da coisa. Ela chama pênis de "instrumento".
Olhe aqui, Caetano: que se dane a maioria de uma enquete. A verdade escandalosa, agora de natureza política, é que os alunos de 12 anos de escolas particulares não estão sujeitos a essa abordagem grotesca: os pais iriam lá e fariam um escarcéu. E esses estabelecimentos dependem do mercado, um excelente saneador de maluquices. Essa estupidez só se dá na escola pública. Sabe por quê? Em primeiro lugar, porque, como quer o homem do “poblema”, pai não apita nada. Em segundo lugar, há o velho preconceito contra o povo, a demofobia: é preciso lhe oferecer métodos de prevenção, já que ele só pensa mesmo em fornicar e em se reproduzir.
Coisa de gente progressista, Caetano! Reacionário sou eu, que acredito que a escola pública tem de ser competente em ensinar aos pobres português, matemática e ciências. Mas quê... Para essa gentalha, esses humanistas acreditam que bastam cotas, pênis de borracha e algumas ONGs que lhes ministrem aulas daquilo em que já são especialistas: bater lata. Assim se constrói uma das piores escolas do mundo.
Clic aqui para ver o video.
CACP
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