Agência FAPESP – A velha piada de por que o elefante cruzou a estrada (para chegar ao outro lado) além de não ter graça traz uma triste constatação. Segundo um novo estudo feito na bacia do Congo, na África Central, os elefantes não apenas deixaram de cruzar as estradas como as têm evitado a todo o custo para poder sobreviver.
A pesquisa ressalta que os elefantes são animais com destacada inteligência que aprenderam a associar estradas com perigo. No caso, com a presença de caçadores, ainda muito comuns no continente africano.
O trabalho, feito por pesquisadores das organizações Wildlife Conservation Society (WCS) e Save the Elephants, foi publicado na edição de 27 de outubro da revista PLoS One, da Public Library of Science.O estudo indica que os elefantes selvagens adotaram uma “mentalidade de cerco”, que força populações a se tornar cada vez mais confinadas e isoladas. Isso, por seu lado, reduziria a tradicional capacidade de se deslocar por longas distâncias de modo a encontrar hábitats mais adequados e prejudicaria os trabalhos de conservação.
Os pesquisadores, que acompanharam por GPS 28 elefantes nos quais foram colocados sensores, verificaram que as estradas, especialmente aquelas fora de parques ou de áreas protegidas, atraem caçadores e acabam se tornando barreiras para os movimentos dos animais.
Nos exemplares analisados, apenas um cruzou uma estrada fora de uma área protegida, e mesmo assim de forma incomum, com velocidade 14 vezes maior do que a normal.
A aversão acabou se ampliando também para áreas protegidas e remotas. Com o tempo o cenário teria se tornado tão significativo que, segundo os cientistas, pode não haver mais elefantes não-confinados na África Central, ou seja, que se deslocam impassíveis por longas distâncias.
A situação tende a piorar ainda mais, uma vez que a região passa por uma explosão na construção de estradas, movida pelo desenvolvimento econômico na República do Congo e no vizinho Gabão.
“Elefantes de floresta estão basicamente vivendo com medo em prisões criadas pelas estradas. Eles passaram a perambular pelas matas como camundongos apavorados e não como os gigantes tranqüilos e formidáveis de antes”, disse Stephen Blake, da WCS, principal autor do estudo.
A estratégia de evitar estradas pode diminuir o risco de serem caçados, mas a diminuição do espaço reduz o acesso a alimentos e pode resultar em comportamentos agressivos que prejudicariam o sucesso reprodutivo. “Entre os problemas acarretados pela mentalidade de cerco estão doenças, fome, estresse e desintegração social”, destacou Blake.
O artigo Genome-wide detection of serpentine receptor-like proteins in malaria parasites , de Celia Garcia e outros, pode ser lido em www.plosone.org.
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