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quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O “P” na TULIP

John Mark Hicks

Todos que perseveram na fé são eleitos.

Ambos calvinistas e arminianos podem concordam com a afirmação acima. Para o calvinista, aqueles que não perseveram na fé, embora num dado momento pareciam tê-la, na verdade nunca possuíram fé autêntica (por exemplo, o próprio exemplo de Calvino é Simão o Mago de Atos 8). Para o arminiano, aqueles que não perseveram na fé perderam sua fé em conseqüência de provações e tentações (por exemplo, os espinhos que sufocaram a fé recente na parábola do semeador é um exemplo arminiano favorito). Qualquer que seja o raciocínio teórico para a falta de perseverança – para os calvinistas a razão é porque eles não são eleitos e para os arminianos é porque não continuaram cooperando com a graça capacitante de Deus – as duas teologias unem-se na primeira sentença desta mensagem. Somente aqueles que perseveram na fé são eleitos e todos os eleitos irão perseverar na fé.

O que o calvinista alega, na sua busca de vencer a posição arminiana, é que a segurança do calvinista é maior do que a do arminiano, porque sua segurança é mais certa. É mais certa porque eles perseveram visto serem eleitos antes que simplesmente eleitos através da perseverança da fé. Para o calvinista, os eleitos perseveram porque são eleitos enquanto para o arminiano a fé é o meio da eleição. Conseqüentemente, os calvinistas tendem a dizer que eles têm segurança (certeza) sobre o futuro enquanto os arminianos têm somente uma frágil esperança (possibilidade) no presente.

Mas eu não aceito isto como verdadeiro. Os calvinistas sabem que muitos que pareciam ter fé autêntica não perseveraram. Calvino falou daqueles que tinham uma “fé temporária” (Institutas, 3.2.11). Deus na verdade os iluminou por um tempo mas então retirou sua luz porque eles não eram eleitos (Institutas, 3.24.8). Isto cria o problema epistemológico de como alguém sabe se tem uma fé autêntica ou somente uma fé temporária, visto que até mesmo aqueles com uma fé temporária pensam ter uma fé autêntica.

A resposta de Calvino era que aqueles com uma fé autêntica têm “sinais” que são “evidências seguras” da fé salvadora (Institutas, 3.24.4). Um dos “sinais” é a própria perseverança, conforme Calvino, junto com outros. Entretanto, eu considero isto muito problemático. Como alguém interpreta os sinais e quais são os sinais indubitáveis? Deve haver sinais indubitáveis se a segurança é certa. Como eu sei que não tenho uma fé meramente temporária? Calvino sugere que aqueles que “investigam [a Palavra] corretamente e em ordem, como se contém na Palavra, daí recebem excelente fruto de consolação” (Institutas, 3.24.4). A segurança, então, depende de um correto estudo da palavra (reconhecendo os sinais) e uma honesta aplicação desses sinais ao crente individualmente (há espaço para auto-engano aqui?). A segurança, então, no sistema de Calvino, depende de um entendimento humano e de uma aplicação da palavra a sua própria situação específica a fim de discernir se alguém possui fé salvadora.

Paul Helm, um famoso teólogo e filósofo reformado, ilustra – me parece – o ponto central do problema. Ele escreve: “Assim, pareceria que uma pessoa pode ser um crente genuíno e todavia não estar seguro de que seja um, porque compreendeu mal os sinais. Similarmente, uma pessoa pode não ser um crente genuíno, mas pode pensar que é, porque traduziu imprecisamente os sinais.” Isto parece tornar a segurança dependente de um correto entendimento. Torna uma avaliação intelectual – é um ato humano. A má compreensão pode destruir a segurança – até mesmo num sistema teológico calvinista. Assim, ainda que os calvinistas podem sugerir que são eleitos por um decreto eterno, a segurança de sua eleição é dependente de uma epistemologia humana. Isto parece irônico, não? Em outras palavras, Deus elege as pessoas unicamente por sua graça e irresistivelmente as dá fé, mas os crentes somente podem estar certos de que têm uma fé autêntica através de sua própria avaliação humana dos sinais presentes neles.

Meu ponto não é que não podemos ter segurança. Pelo contrário, creio que temos essa segurança através da fé. Antes, meu ponto é que o calvinista não tem mais segurança presente ou futura que o arminiano, porque os calvinistas não podem ter certeza de que a sua fé é salvadora senão da mesma forma que os arminianos estão certos de que a sua fé é salvadora.

Eu concordaria com Calvino no ponto mais significante. Estamos seguros através da fé – enquanto confiamos em Cristo ele reflete nossa graciosa eleição pelo Pai. Através do poder do Espírito confiamos em Jesus como nosso redentor e experimentamos união com ele. A fé é o meio da segurança – nisto ambos calvinistas e arminianos podem concordar. Podemos saber que somos salvos e sabemos disto através da fé, ainda que seja uma fé fraca. Além disso, eu sugeriria que esta não é fundamentalmente uma questão de entendimento humano mas uma experiência de confiança naquele que salva.

Aqui, então, está o denominador comum prático entre arminianos e calvinistas – todos que perseveram na fé são eleitos.

Em outra mensagem irei comentar sobre uma outra perspectiva que é dominante em muitas comunidades crentes que não é nem arminiana nem calvinista – é o ponto de vista da “segurança eterna,” ou “uma vez salvo, sempre salvo,” ou “se alguém uma vez creu, ainda que não mais crê, ainda está salvo.” Ambos calvinistas e arminianos concordam que todos os eleitos irão perseverar na fé mas esta moderna perspectiva (tem somente 150 anos) não crê que a perseverança é necessária ou que ela é um meio para a salvação. Muita coisa virá sobre essa perspectiva num futuro próximo.

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