A reportagem é de Denise Chrispim Marin e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 06-11-2008
A vitória do democrata Barack Obama nas urnas da Califórnia e da Flórida mostrou que a maioria dos eleitores pode até querer mudanças - mas não muito profundas. A sombra conservadora nos resultados das eleições nesses Estados atingiu os referendos sobre o casamento entre homossexuais, que se somaram nas cédulas às escolhas entre os candidatos para cargos nos três Poderes.
No Arizona, o reduto republicano onde John McCain ganhou, por uma margem pequena de votos, a aprovação da proposta de proibição ao casamento gay somente reforçou a decisão tomada em 2006, de “jamais” permitir esse tipo de união no Estado favoráveis e os contrários gastaram um total de US$ 74 milhões em suas campanhas, a decisão causou surpresa. Especialmente, porque o Estado era visto como o local menos preconceituoso dos EUA em relação ao homossexualismo.
A proposta número 8 inscrita na cédula eleitoral previa a reversão de uma decisão do Tribunal do Estado, de maio, a favor do casamento gay, e teve a aprovação de 52% dos eleitores. O resultado deverá afetar 18 mil homossexuais que, no Estado, casaram-se nos últimos cinco meses. Na Flórida, mais de 60% dos eleitores deram aval à Emenda 2 à Constituição estadual, que proíbe o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Na avaliação de Christiane Sierra, doutora em ciências políticas e professora da Universidade do Novo México, o eleitorado americano votou em Obama principalmente por sua posição de afrontamento à política econômica do governo de George W. Bush e pelas promessas de mudança em relação à ordem atual. Os eleitores, porém, não foram movidos por um desejo de “rompimento ideológico profundo”, que poderia abranger temas morais e éticos mais resistentes, como o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Nem mesmo Obama, em sua campanha eleitoral, se atreveu a cruzar os limites em relação a esse tema. Em algumas entrevistas, o democrata deixou claro que, pessoalmente, acreditava no matrimônio apenas entre homem e mulher. Mas, no Senado, ele havia se oposto a uma emenda constitucional que baniria o casamento homossexual nos EUA e apoiou a aprovação das uniões civis entre homossexuais.
“A grande maioria do eleitorado americano é moderada. Não é nem liberal nem conservadora, embora possam dizer que assim sejam”, afirmou a cientista política. Segundo Christiane, essa posição moderada deverá dar a tônica às iniciativas do governo de Obama em várias questões consideradas mais delicadas, do ponto de vista moral. As possíveis mudanças nessa área se darão mais lentamente, em uma batalha contínua em cada Estado e, sobretudo, nos seus tribunais.
PROPOSTAS CONTROVERSAS
Além da questão do aborto, outros 150 temas foram decididos ontem em 36 Estados por plebiscito. Eleitores também votaram em propostas sobre o direito ao aborto, o uso medicinal da maconha e a eutanásia.
Em Dakota do Sul, 55% dos eleitores rejeitaram uma proposta que imporia limites ao aborto. No Colorado, 73% dos eleitores rejeitaram uma proposta estabelecendo que a vida humana começa no momento da concepção. A legalização da maconha para fins medicinais foi aprovada no Michigan por 63% dos eleitores.
Já em Massachusetts, deixa de ser crime o porte da droga em pequenas quantidades. No Estado de Washington, 59% dos eleitores aprovaram uma lei que permite que pacientes terminais recebam prescrição de medicamento letal para administrar individualmente.
http://www.unisinos.br/
-
Nenhum comentário:
Postar um comentário