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quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Nós, que sabemos tudo

MARTA Mª M. OLIVEIRA PIROTA

Dar conselhos é uma atividade interessante, não a forma como eu faço, como psicóloga, pela qual sou paga e que me torna responsável pelo que digo, mas sim o que falamos meio sem saber o que dizemos, em qualquer lugar, pra qualquer pessoa.

Vejo as pessoas dando conselhos (literalmente), não apenas ouço e é realmente muito interessante. É comum, por exemplo, que as pessoas projetem situações de sua vida na vida de quem aconselham e começam a contar suas própria dificuldades, interrompendo a outra pessoa, passando por cima da preocupação dela e acabando ela mesmo por pedir uma idéia do que fazer.

Mais comum ainda é os que, na verdade, não querem conselhos e quando você começa a dizer o que pensa, ele "devolve" sua idéia e fala o que ele mesmo pensa que ele deve fazer.

Mas nem todo conselho faz parte da festa e existem aqueles que você é obrigado a ouvir. Conselhos que refletem mentes bem mais rígidas ou bem mais soltas do que a sua. Conselhos que antes de ajudar, aborrecem, constrangem, irritam.

O que se sabe é que existe um acordo tácito entre quem pede e quem dá conselhos, que é o fato de que ninguém é responsável pelo que diz. O melhor exemplo é nas reuniões de amigos, onde, misturado à cerveja e a simpatia, é difícil a vez em que não se dá ou recebe conselhos.

Eles, "os conselhos", quase sempre começam assim: "você deveria", ou "se eu fosse você", com o devido tom de imposição, que fala da certeza da pessoa em ter razão, em saber o que precisa ser feito, o que é melhor pra você. O mais impressionante é o poder magnetizador destas pessoas, que conseguem manter alguém ouvindo o que não quer, calado. Quem tentou responder ou se opor à opinião, sabe o quanto isto piora tudo, pois só dá mais munição para quem já pensa que conhece todas as saídas, para os problemas da vida, seja a dele, seja a sua, seja a minha.

E assim, quando nos defrontamos com eles, que sabem tudo ou que pensam que sabem, nos tornamos platéia... muda. Junte a isso outra característica peculiar, a dificuldade em perceber como a outra pessoa está reagindo a sua "intromissão" bem-intencionada, mas mal colocada e teremos uma situação, no mínimo desconfortável.

Mas, para dizer a verdade, "empatia" , aquele sentimento que nos faz sentir o que o outro sente, perceber com clareza o que outro quer expressar, não dá em moita. Pode-se até dizer que empatia é um dom, uma aptidão, ou, pelo menos, uma característica a ser desenvolvida por nós. Mas é preciso querer desenvolvê-la, sentir necessidade de entender melhor as pessoas a nossa volta, seja para dar um conselho adequado, seja pra saber quando não dar conselho nenhum.

Mas não serão os que pensam que já sabem tudo que sentirão esta necessidade? Seria preciso que, primeiro, admitissem que, como nós, ainda não sabem o suficiente pra direcionar a vida de ninguém.

Seria preciso que se preocupassem mais com os sentimentos, com as reações das pessoas, do que com a necessidade de ouvir a própria voz.

*Psicóloga Clínica - E-mail -
martamop@uol.com.br

http://www.progresso.com.br/not_view.php?caderno_fixo=24

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