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segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A religião em nosso cérebro

Marco Antonio Arruda

Imagine se você tivesse uma máquina que, colocada em sua cabeça como um capacete, fosse capaz de estimular áreas específicas do seu cérebro, melhorando funções ou provocando sensações que residem nessas áreas. As utilidades seriam muitas. Se estivesse irremediavelmente deprimido a estimulação lhe devolveria o bem-estar, quando ansioso e estressado uma simples sessão lhe traria de volta a tranqüilidade. Preocupada com seus alunos, já à entrada da sala de aula a professora aplicaria o “passe” com o estimulador, garantindo a atenção e alto desempenho de todos.

Isso não é ficção científica! Essa máquina existe, chama-se EMT (de estimulação magnética transcraniana) e já começa a ser utilizada não apenas em conceituados centros de pesquisa, mas também na prática clínica diária. Essa semana o FDA (Food and drug Administration), agência americana com funções semelhantes a nossa ANVISA, aprovou o uso da EMT no tratamento de casos refratários de depressão.

Mas pense bem e responda: que parte do seu cérebro você estimularia no dia de hoje? Uma avalanche de estudos em neuroimagem funcional revela a possível localização de várias funções e experiências no cérebro humano. Hoje são descritas áreas e circuitos cerebrais relacionados ao medo (amígdala), ao amor romântico (núcleo caudado), à moral (córtex cingulado anterior) e ao prazer (septo). Pacientes cegos desde o nascimento, ao receberem a EMT na região occipital (área cerebral responsável pela visão) relatam a percepção de cores e brilho, algo como se vissem pela primeira vez.

Mais intrigante ainda são as pesquisas que apontam para a existência de um módulo cerebral responsável pela nossa religiosidade. Em um estudo realizado pelo neurocientista canadense Michael Persinger, 80% dos voluntários submetidos à EMT de regiões específicas do lobo temporal relataram “experimentar” Deus. Andrew Newberg, da Universidade da Pensilvânia, avaliou com neuroimagem funcional o que ocorria no cérebro de monges budistas durante a meditação e encontrou uma alta atividade no lobo temporal.

Esse fenômeno também vem sendo descrito em pacientes que apresentam epilepsia de origem na região temporal. Esses pacientes (inclusive alguns agnósticos) referem tal experiência divina durante suas crises epilépticas.

Maniqueísmos à parte, a religião não tem o que temer nesses novos achados, a Ciência existe para explicar o mundo ao nosso redor e, de repente, descobrir que temos em nosso cérebro uma antena de comunicação com Deus, convenhamos, não é nada mal.

(Marco Antônio Arruda é Neurologista da Infância e Adolescência e Doutor em Neurologia pela Universidade de São Paulo, autor do livro “Levados da Breca” (www.aprendercrianca.com.br)

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