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quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Lutero e suas contribuições para a economia, a ética e a solidariedade

Há quase 500 anos, Martinho Lutero (1483-1546) denunciava as práticas econômicas da época, confrontando-as com as palavras do Evangelho e as atitudes de Jesus. E exigia novas posturas, tanto dos mercadores como dos pastores da Igreja, que se calavam frente aos abusos financeiros.

A reportagem é de Moisés Sbardelotto.

Essa foi a opinião defendida pelo Prof. Dr. Ricardo Willy Rieth, nesta quinta-feira, 30, no evento IHU Idéias, intitulado “Lutero: contribuições para a economia, a ética e a sociedade”. O encontro serviu, também, para marcar o Dia da Reforma, lembrado nesta sexta-feira, dia 31 de outubro.

Doutor em História da Igreja pelo Instituto de História da Baixa Idade Média e da Reforma da Universidade de Leipzig, Alemanha, e pós-doutor pela mesma instituição, Rieth afirmou que, em sua época, Lutero buscou, como teólogo e cristão, se ocupar com o assunto da economia. Sem renunciar à sua vocação de teólogo, tentava ajudar as pessoas dentro de suas possibilidades e, por isso, aprofundou uma análise da economia da época, para compreender, especialmente, o papel da usura (cobrança de juros em empréstimos), considerada um pecado. É por isso que, segundo Rieth, Lutero foi considerado o primeiro economista nacional alemão, de acordo com um filósofo que teria suas teorias sócio-econômicas amplamente difundidas séculos depois: Karl Marx.

Uma das práticas estudadas por Lutero era o chamado “contrato de renda”, um sistema de crédito usurário, em que um agricultor pedia dinheiro emprestado a um credor, que podia, por sua vez, “comprar” uma parte da produção final. Obviamente, esse “comprar” era a forma “sem pecado” que os credores encontraram para usurar sem peso na consciência – e, às vezes, exigiam o pagamento dessa parte adicional durante gerações e gerações.

Lutero, então, analisa o funcionamento desse esquema econômico e passa a denunciá-lo. Segundo Rieth, ele chega até a adiantar algumas conclusões que apenas Max Weber irá definir séculos depois (com o termo “mais-valia”), quando afirma que, ao “comprar” a parte da produção, o que estava sendo apropriado pelo credor era o próprio trabalho do devedor. Além disso, ele denuncia que os riscos da ação não são compartilhados entre devedor e credor: independentemente do sucesso da produção, os custos irão cair apenas sobre o devedor.

Assim, segundo Rieth, Lutero passa a defender, por parte da autoridade, uma nova regulamentação do contrato de renda. Ou seja, em termos atuais, uma intervenção do Estadosobre a economia. E colocava grande responsabilidade sobre a Igreja e seus pastores por não se manifestarem publicamente contra essa prática.

A partir daí, Lutero passou a estudar mais detalhadamente todas as práticas econômicas de sua época, após longas conversas com os mercadores. Em seus escritos, identifica e descreve em detalhes práticas como as vendas a crédito e de agiotagem, formação especulativa de estoques (monopsônio e monopólio), dumping, corretagem, abusos na fixação de preços, formação de cartel, deságio, falência fraudulenta, empréstimos a juros fixos com risco exclusivamente para o empreendedor, comércio fraudulento e outras mais.

De acordo com Rieth, Lutero tinha um método de análise composto por quatro passos: a descrição da situação a partir da análise cuidadosa; a busca de afirmações do Evangelho para a forma de lidar com os recursos materiais; a contraposição das práticas econômicas e suas motivações ao mandamento de Cristo; e a apresentação e análise de casos específicos de atividade econômica, identificando, em cada um, práticas injustas.

Uma das passagens bíblica em que Lutero encontra grande suporte para defender as exigências éticas feitas por Jesus, é a do Sermão da Montanha (Mateus 5). Ele não oferece receitas prontas, mas desafia as pessoas envolvidas a formularem juízos éticos que sejam coerentes com a sua fé. E identifica, nessa passagem, três modos de um cristão agir: estar disposto a deixar que levem os bens quando intimado pela força; dar livremente os bens a que necessita ou deseja; e emprestar de boa vontade sem exigir de volta nada além do que foi emprestado.

Para Lutero, afirmou Rieth, apenas as pessoas desassistidas (órfãos e viúvas) e as que tivessem algum tipo de deficiência é que poderiam praticar a usura, pois não seriam capazes de encontrar seu próprio sustento por meio de seu trabalho. Para Rieth, isso mostra também que, levando-se em consideração o contexto histórico em que ele viveu, Lutero ajudou a formular um juízo ético na perspectiva da ética cristã acerca também de questões econômicas. Ao denunciar e combater as injustiças, ele queria, enfim, uma melhoria de vida das pessoas e a construção de uma sociedade mais justa, por meio de uma ética baseada na fé, no amor e nas obras.
Unissinos



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