Este Blog permanece ativo 24 horas por dia e somente informa os que aqui chegam, com assuntos que circulam pela internet e jornais. Não categoriza nem afirma isso ou aquilo como verdade absoluta. Não pretende desenvolver uma doutrina, nem convencer ninguém. Mas apenas que possamos refletir em assuntos importantes de nosso dia-a-dia. Portanto, tudo que for postado são de conteúdo informativo, cabendo a cada um ter suas próprias conclusões.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Católicos pedem a renúncia de Bento XVI

Tido, desde o início, com muito pouca capacidade midiática, Bento XVI, agora, tem dado muito que falar. Numa questão de semanas, esse intelectual tímido e introvertido vem multiplicando os escândalos. O mais recente – e não dos menores, pois concerne à sobrevivência do continente africano – suscitou um brado de indignação midiático sem precedentes.

Do mesmo modo os católicos já não suportam a situação. Nesse sentido, 55% dos católicos franceses admitem ter formado uma opinião negativa a respeito do Papa Ratzinger. Chegou-se ao grau máximo do suportável.


bento


Há mais. Hoje, 43% dos católicos franceses agora desejam que o soberano Pontífice se demita do cargo, entregando-se a uma vida reclusa, para contentamento geral. A insatisfação está longe de ser uma reação exclusivamente francesa — bem ao contrário do que, sem nenhum tato, tenta insinuar o jornal Avvenire (porta-voz da conferência episcopal italiana e de seu presidente, o Cardeal conservador Angelo Bagnasco). Na muito católica Itália, 52% dos interpelados declaram-se em total desacordo com as resoluções do Pontífice. Dentre os católicos italianos, menos da quinta parte estaria disposta a defender Bento XVI.


De todos os lados, tanto no circuito das paróquias quanto no das rádios, TVs e imprensa, já se fala abertamente no “problema Bento XVI”.


Desde a sua eleição, na primavera de 2005, esse velho Cardeal já despertara mal-estar no público, que nele observava falta de carisma e um extremo conservadorismo (mais de 1000 teólogos sob censura…). E, de fato, após alguns meses de inação, o Pontífice acabou, de fato, por revelar sua verdadeira face: rude intransigência, rígida incompreensão.


Joseph Ratzinger “não condiz com o perfil de um Papa”


Em relação a seu predecessor, João Paulo II, a presente situação é bem diversa. Ao contrário do que acontecia com o Papa anterior, não se encontram, na figura de Bento XVI — à maneira de contrapeso para os evidentes erros de algumas de suas posições, verdadeiramente inaceitáveis —, nem a irradiação de personalidade, nem um compromisso confiável no diálogo inter-religioso. Porte distinto, muito elegante, mas sem influência, Bento XVI “não condiz com o perfil de um Papa”, como se costuma dizer na Itália. Ademais, no Vaticano, não soube constituir à sua volta uma equipe habilitada para corrigir os erros, com uma atuação complementar à sua. Pelo contrário, fez-se cercar de antigos colaboradores, que sempre o sustentaram em suas [rígidas] tomadas de posição quando ainda era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.


Entretanto, mais do que as escolhas discutíveis e certamente infelizes, o que levou Bento VI a perder o rumo foi uma espécie de autismo e de retranca, uma desconfiança extrema e uma autoconfiança em suas próprias luzes. A sistemática recusa em dar ouvidos às opiniões alheias, como também em pedi-las, além de um fechamento no silêncio, tudo isso, em certa medida, explica as gafes cometidas, que são, desde logo, inequívoca expressão de um atingir um objetivo restaurador extraordinariamente reacionário e inteiramente solitário.


Positivamente, com a publicação de sua Carta, Bento XVI deixou-se superar pelos acontecimentos, e já nem sabe como enfrentar o brado de indignação que ele próprio — ingenuamente — provocou. Sua Carta de explicação sobre o caso Williamson é aflitiva. Isso porque, no fundo, Joseph Ratzinger parece não haver tirado nenhuma conclusão efetiva sobre a crise atual, revelando, assim, notória incapacidade de enfrentar um conjunto de circunstâncias, em cujo cerne, desde o início, mais do que ninguém, se acha ele diretamente envolvido.


Um Papa introvertido e confiante em suas certezas


Para convencer os demais acerca do bom fundamento de sua orientação, Bento XVI deveria ter uma percepção diferente sobre a forma de comunicar-se, aprendendo a “apanhar no ar” os projéteis que esvoaçam ao seu redor… Propriamente eis o que faz falta a esse homem de idade avançada, rebuscado e persistente, como que saído de um vitral de outros tempos, talvez de um museu.


No dia 28 de maio de 2006, Bento XVI retratou de forma errônea e inoportuna (sobretudo na boca de um alemão) os nazistas como um “bando de criminosos” que “enganou” o povo alemão. Alguns meses depois, no dia 12 de setembro de 2006, ao fazer uma alocução na Universidade de Ratisbona, associou o Islã à violência, sem ressalvas ou matizes, citando a respeito uma opinião por demais rigorosa e provocativa de Manuel II Paleólogo, imperador bizantino na Idade Média.


Em maio de 2007, visitando o Brasil, como que insensível ao charme e à acolhida calorosa desse povo entusiasta, o arguto e embaraçado Pontífice afirma que a evangelização das populações indígenas da América Latina “em nenhum momento representou uma ruptura com as culturas pré-colombianas”. Uma estupidez em face da História e um ultraje aos descendentes dessas culturas…


Mais recentemente, no dia 21 de janeiro de 2009, um decreto do Vaticano, expressamente promulgado por ele, revoga a excomunhão de quatro prelados integristas, dentre os quais D. Richard Williamson, bispo inglês inteiramente sulfuroso, notório negacionista. No episódio, o público acusa a Cúria romana — sociedade formada de celibatários, muitas vezes anciãos, conservadores obstinados, arrivistas ou testas-de-ferro, em cujo seio, contrariamente às antigas promessas, o Papa nenhuma reforma introduziu. No ambiente da Cúria, a comunicação entre os diversos dicastérios (“ministérios”) é inexistente, com intrigantes em grande número, que, a todo instante, se deixam seduzir pelo desejo de obter uma mitra ou um barrete de cardeal… No tocante ao apressado e escandaloso levantamento da excomunhão, desempenhou de modo muito autêntico o seu papel o inquietante cardeal Castrillón Hoyos, que, logo depois declararia não ver no negacionismo um problema verdadeiramente real.


Uma tal manifestação de incompetência e de espírito partidarista dessa magnitude deveria justificar, pelo menos, o imediato afastamento desse prelado, bem como de seu braço direito, o Bispo luxemburguês Camille Perl, do mesmo naipe que aquele. Contudo, ao mesmo tempo, também um outro prelado parece nada haver aprendido com a história recente. Trata-se do cardeal Giovanni Battista Re, prefeito da Congregação para os Bispos (que, aliás, nem é situado entre os mais conservadores do Vaticano). Por disposição do Papa, ele declara justa a pena de excomunhão, lançada no Brasil por um arcebispo que todos execram (D. Cardoso Sobrinho), contra uma mãe de 9 anos que fez abortar sua filha, estuprada pelo seu padrasto e grávida de gêmeos, assim como contra os médicos responsáveis pelo aborto.


A situação chegou a tal ponto que não há mais retorno. Até um jornalista católico dentre os mais ultramontanos e conservadores, como é o caso de Patrice de Plunkett, vê-se obrigado a reconhecer que agora “é preciso mudar tudo: os métodos, as pessoas”. Conforme a observação muito acertada de Jean-Louis Schlegel, “o Papa reina, mas não governa”. Sim, este pontificado parece realmente encerrado, profundamente desacreditado. “É preciso mudar tudo…”.


De um lado, segundo o Direito Canônico, que rege a vida interna da Igreja, nenhum mortal pode destituir o Papa. De outro, mesmo supondo que essa destituição tivesse validade legal, facilmente poderíamos imaginar os consideráveis riscos de cisma e fragmentação que haveria entre os que apoiassem a destituição e os que fossem contrários. Estes alegariam que o Pontífice continua bispo de Roma, investido, pela graça de Deus, no [pleno e] ininterrupto exercício de suas funções.


Todavia, o próprio Direito Canônico atualmente em vigor, promulgado por João Paulo II, em 1983, admite a hipótese de o Papa renunciar livremente ao seu cargo por sua própria iniciativa (art. 332-2). Uma vez que acima dele não existe nenhum outro poder exceto Deus, o Soberano Pontífice não precisa obter autorização de ninguém para que a sua demissão seja aceita. Neste caso, para a validade de uma renúncia, basta, pura e simplesmente, “que seja livre e devidamente manifestada”.


No atual contexto, visto que o mundo delineado pela mídia constitui uma aldeia global, torna-se muito arriscado conservar no exercício de suas funções um Pontífice desacreditado, que arrasta consigo os demais no próprio descrédito. Como, portanto, de uns tempos para cá, a situação se modificou bastante, uma saída de cena de Bento XVI, rápida e voluntária, sinal de humildade e de verdadeiro sentido da autoridade como serviço, desbloquearia a situação, permitindo que sem tardar seja aberta uma nova página da história da Igreja. Sem isso…

http://www.montfort.org.br/index.php?secao=veritas&subsecao=papa&artigo=demissao-bento-xvi&lang=bra

Fonte


Nenhum comentário:

Postar um comentário