Se 66 deputados federais não houvessem assinado um recurso, o projeto de aborto do governo já teria sido sepultado na Câmara
O projeto abortista do presidente LulaEm 27 de setembro de 2005, o presidente Lula entregou ao Congresso Nacional, por sua subordinada imediata, a secretária Nilcéa Freire, uma “proposta normativa” para legalizar o aborto até os nove meses e obrigar os planos de saúde a custeá-lo.[1] Infelizmente, o exame do texto do governo nos leva a concluir que ele foi redigido com má-fé. No artigo 2º havia aparentemente (mas só aparentemente) algumas restrições à prática do aborto. O artigo 8º, porém, destruía qualquer restrição, pois revogava todos os dispositivos do Código Penal que incriminam o aborto quando a gestante deseja praticá-lo: “Revogam-se os arts. 124, 126, 127 e 128 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal)”. A imprensa deixou-se enganar, e passou a divulgar que o governo desejava liberar o aborto “até doze semanas de gestação”, o que é falso. Na verdade, o anteprojeto pretendia a liberação completa do aborto até a hora do parto. A CNBB não foi admitida pelo governo a participar da Comissão Tripartite que elaborou o texto.
Em 4 de outubro de 2005, a deputada Jandira Feghali (PC do B/RJ) adotou a proposta normativa do governo Lula como substitutivo ao Projeto de Lei 1135/91. Apesar do enorme empenho da deputada em tornar lei a proposta do governo, a oposição pró-vida foi muito grande. O plano de aprovar o PL 1135/91 ficou, então, para o próximo mandato de Lula.
Rejeição de Jandira Feghali
A defesa intrépida do aborto custou a Jandira Feghali a derrota de sua candidatura ao Senado. No dia 1º/10/2006, Jandira obteve apenas 37,54% dos votos válidos e perdeu para Francisco Dornelles (PP/RJ), que ficou com 45,86% dos votos válidos. A candidata pró-aborto “admitiu que já tinha se imaginado eleita e planejando o trabalho que fará [faria] no Senado”.[2]
Em 5 de outubro de 2008, desta vez como candidata a prefeita do Rio de Janeiro, Jandira obteve apenas 9,79 % dos votos dos cariocas. Foi derrotada já no primeiro turno.[3]
Projeto do governo é derrotado na Câmara
Em 07 de maio de 2008, o Projeto de Lei 1135/91, que em sua versão atual pretende liberar o aborto nos nove meses de gestação, foi derrotado por 33 votos contra zero, na Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) da Câmara dos Deputados. Como se isso não bastasse, em 09 de julho de 2008 o mesmo projeto foi derrotado por 57 votos contra 4 na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC), apesar de todo o esforço do deputado José Genoíno (PT-SP) de impedir a votação. Inconformado com a dupla derrota, Genoíno disse aos pró-vida: “Nós nos encontraremos no plenário”.
O Recurso 0201/08
O PL 1135/91 teria sido arquivado se, dentro de 5 sessões ordinárias a partir de 01/08/2008 não fosse apresentado algum recurso. O prazo encerrou-se em 21/8/2008. Mas antes disso, em 13/08/2008, Genoíno apresentou ao presidente da Câmara o Recurso 0201/08, solicitando que o projeto abortista não fosse arquivado, mas que primeiro fosse apreciado pelo plenário da Câmara. Eis o teor do recurso:[4]
Senhor Presidente,
Conforme o disposto no artigo 58, §3° combinado com o artigo 144, do Regimento Interno, apresentamos o presente RECURSO, para que o Plenário da Câmara dos Deputados delibere sobre o Projeto de Lei n° 1.135, de 1991, que “suprime o artigo 124 do Código Penal Brasileiro”. (Liberação do aborto)
Sala das Sessões, em [13/08/2008]
Deputado JOSÉ GENOÍNO (PT/SP)
Para que o recurso fosse admitido, seria necessário que fosse assinado por pelo menos um décimo dos membros da Câmara, ou seja, por 52 deputados. No dia 14/8/2008, a Secretaria Geral da Câmara verificou que havia 66 assinaturas válidas, o suficiente para a admissão do recurso.[5] No dia 18/08/2008, a Mesa Diretora da Câmara emitiu o despacho: “Publique-se. Submeta-se ao Plenário. Proposição Sujeita à Apreciação do Plenário.” O Diário da Câmara publicou o despacho em 21/08/2008.[6] Eis a lista dos 66 deputados graças aos quais o pesadelo do aborto ainda não acabou na Câmara:
AC | NILSON MOURÃO | PT |
AM | VANESSA GRAZZIOTIN | PCdoB |
AP | DALVA FIGUEIREDO | PT |
AP | EVANDRO MILHOMEN | PCdoB |
AP | JANETE CAPIBERIBE | PSB |
BA | ALICE PORTUGAL | PCdoB |
BA | DANIEL ALMEIDA | PCdoB |
BA | NELSON PELLEGRINO | PT |
BA | ROBERTO BRITTO | PP |
BA | SEVERIANO ALVES | PDT |
BA | ZEZÉU RIBEIRO | PT |
CE | CHICO LOPES | PCdoB |
CE | EUDES XAVIER | PT |
CE | FLÁVIO BEZERRA | PMDB |
CE | JOSÉ GUIMARÃES | PT |
DF | MAGELA | PT |
ES | IRINY LOPES | PT |
GO | RUBENS OTONI | PT |
MA | DOMINGOS DUTRA | PT |
MA | SARNEY FILHO | PV |
MG | EDMAR MOREIRA | DEM |
MG | JÔ MORAES | PCdoB |
MG | VIRGÍLIO GUIMARÃES | PT |
MS | ANTÔNIO CARLOS BIFFI | PT |
MS | NELSON TRAD | PMDB |
MT | CARLOS ABICALIL | PT |
PA | ASDRUBAL BENTES | PMDB |
PA | BETO FARO | PT |
PA | PAULO ROCHA | PT |
PA | ZÉ GERALDO | PT |
PB | WILSON SANTIAGO | PMDB |
PE | ANA ARRAES | PSB |
PE | FERNANDO FERRO | PT |
PE | INOCÊNCIO OLIVEIRA | PR |
PE | MAURÍCIO RANDS | PT |
PE | PEDRO EUGÊNIO | PT |
PE | RAUL JUNGMANN | PPS |
PE | SILVIO COSTA | PMN |
PR | ANGELO VANHONI | PT |
PR | MAX ROSENMANN | PMDB |
RJ | BRIZOLA NETO | PDT |
RJ | CARLOS SANTANA | PT |
RJ | CHICO ALENCAR | PSOL |
RJ | EDMILSON VALENTIM | PCdoB |
RJ | FERNANDO GABEIRA | PV |
RJ | JORGE BITTAR | PT |
RN | SANDRA ROSADO | PSB |
RO | EDUARDO VALVERDE | PT |
RR | FRANCISCO RODRIGUES | DEM |
RS | DARCÍSIO PERONDI | PMDB |
RS | LUCIANA GENRO | PSOL |
RS | MARCO MATA | PT |
RS | POMPEO DE MATTOS | PDT |
SP | ARNALDO JARDIM | PPS |
SP | CÂNDIDO VACCAREZZA | PT |
SP | CLÁUDIO MAGRÃO | PPS |
SP | DEVANIR RIBEIRO | PT |
SP | DR. UBIALI | PSB |
SP | IVAN VALENTE | PSOL |
SP | JILMAR TATTO | PT |
SP | JOSÉ GENOÍNO | PT |
SP | JOSÉ MENTOR | PT |
SP | PAULO PEREIRA DA SILVA | PDT |
SP | PAULO TEIXEIRA | PT |
SP | REGIS DE OLIVEIR |
Julio Severo
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